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domingo, 28 de junho de 2009

Cochilo de domingo

Eu quero olhar da janela e ver no horizonte aquilo que há tempos já não é mais meu presente. Quero ver entre a as nuvens e o mar aquele gosto de inocência que não mais sei como é. Saborear cata gota de mim que deixei por onde nem sei se passei. Quero sentir o gosto dos almoços de domingo na casa da vovó, onde eu brincava de forma sincera, naquela época eu nem imaginava que um dia eu não mais brincaria com tanta ingenuidade. Espero que eu ainda me lembre das minhas tantas birras e manhas por coisas pequenas e gostosas de lembrar-se de forma tão viva, e interna. Nessas fotografias já desgastadas eu quero sentir o cheiro da infância e o gosto de cada lembrança de quando eu era criança. Lembrar-me do primeiro dente caído, do primeiro amigo, do primeiro amor, da primeira briga, da primeira festa, e de todos os malditos primeiros que sempre nos marcam. Queria lembrar-me de tudo que passou. Ah, as coisas realmente passam, às vezes nós nem percebemos, mas mesmo assim elas passam. Aquilo tudo passou, e isso tudo continua passando. Eu passei. E passo mais e mais a cada momento. Passar assusta, permanecer também. E as fotografias permanecem vivas na minha memória. Eu sinto dentro do tempo o tempo todo que está dentro de mim. Maldito tempo. Antes ele não fosse assim tão traiçoeiro, assim tão passageiro. Antes ele fosse algo tão diferente do que é, que eu nem posso descrever. Descrever… Realmente eu jamais poderia descrever tudo isso que há dentro de mim. Tudo é tão meu que parece nem ao menos saber como sair de mim, está preso de dentro para dentro. É como se eu fosse tudo isso que eu guardo e que ninguém pode ver, é como se o que eu mostro fosse um feixe de mim que eu consegui soltar, mas que esse feixe já não é mais exatamente aquilo que era antes de soltar-se de mim. É como se eu não fosse o que sou porque tudo o que sou só eu sei ser, e só pra mim. Ah Sartre, minha náusea faz parar-me por aqui. Eu ainda estou cá, a olhar o horizonte sem fim. Eu queria que esse horizonte nunca mais se perdesse de mim. Agora quero lembrar-me de cada parte que eu vivi ao seu lado. Foi você, o primeiro a me dar as mãos e sentar-se ao meu lado naquela calçada preta e branca. Faz muito tempo, mas eu ainda sinto seu cheiro nessa frase, sinto seu corpo nessas palavras. Foi você que de repente, decidiu me ouvir falando de mim durante todos os dias na praça do parque, e eu aproveitei e falei muito, nunca mais parei de falar. Você me ouvia e olhava dentro dos meus olhos, vendo cada parte de mim em tudo que eu falava. Minha profundidade sendo exposta e ameaçada por todo aquele carinho seu que me assustava por ser tão doce. Nós ali, ainda nos bancos da escola, esperando o sinal tocar e anunciar a hora do recreio. E esse tempo já passou e isso realmente faz tempo. E a cada minuto isso se concretiza mais dentro de mim. É como se a ficha fosse caindo aos poucos. É como se dentro de mim eu soubesse que nada passou, mesmo por fora tendo passado. Mas eu queria que você ainda estivesse aqui, sentado do meu lado segurando a minhas mãos em alguma calçada preta e branca com sombra fresca. Eu queria que você ainda me escutasse falar de mim como um dia você escutou, eu queria saber falar tanto de mim pra alguém como só pra você eu falei. Sonho ainda com os filmes na sala de vídeo no colégio, onde você cochilava sempre, mas jamais soltava minha mão. Você não deve nem se lembrar disso, eu só sei que não te esquecerei. Só sei que todos os sorvetes de chiclete e os passeios no zoológico foram os dias que mais tem meu cheiro nessa lembrança. Os dias que mais tem seu cheiro na minha infância. Tudo era puro, belo, sincero. Parecia coisa de filme de sessão da tarde, talvez fosse. Algum filme que eu assisti em num domingo na casa da vovó logo depois de comer e tirar fotos toda suja e melecada. Ah, claro que logo depois de dar alguma birra por qualquer besteira só pra não parar de ser eu desde o inicio de mim. E depois de tudo, um cochilo. Cochilo que me fez sonhar e me imaginar num filme. Esse que eu acabei de contar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Pau nosso de cada dia


Aos vagabundos cafajestes

Que nos divertem majestosamente

Na madrugada eterna

Com o calor interno.

A todos os filhos da puta

Que com a indiferença fria

E morna

Nos aquecem como ninguém antes o fez.

Aos de pau grande

E disposição sagaz

Que fazem de nós as damas da noite

Com pernas abertas e peito bem fechado

Aqueles que nos fazem esquecer a dor

E sentir somente o prazer.

Prazer doce e perigoso

Suspiros frios, calafrio.

Vamos brindar

Uma, duas, três vezes

E mais algumas, tantas.

Acende o cigarro, descansa do gozo.

Abre a janela na manha seguinte.

A falta de memória, com requinte.

O uísque ainda nos copos espalhados

O silêncio permanece calado.

A sensação de satisfação:

Hipócrita, instantânea.

Não, o problema não foi seu pau, nem seu desempenho, querido.

O problema está comigo.

Eu exijo mais que isso.

Eu quero o prazer completo

Quero abrir o peito junto com as pernas

E te mostrar meu gosto de forma sincera.


Nota: A tão doce menina dos olhos depois do ultimo texto decidiu beber novamente a dose toda de uísque, acendeu o cigarro, deixou nele a marca de sua boca com batom cor de sangue e finalmente vomitou com alguma morbeza romântica essas palavras.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sobre o prazer


Agora eu vou falar da carne,

do desejo, do tesão, da fantasia

e de toda minha malícia.


Vou falar de cada amasso,

cada laço, cada mormaço,

nesse nosso embaraço.


Vou lembrar-me daquele arrepio,

daquele delírio,

mas principalmente daquele suspiro frio.


Demorar-me no que faz do silêncio algo que não é mudez.

Na qual os corpos são bem mais que a nudez.


Junto ao sexo e ao álcool, prazeres sagazes e ferozes,

cito também aqueles outros pequenos prazeres vagabundos,

que fazem dos poetas experimentadores do mundo.


Na queima de energias eterna,

a explosão interna,

que me enrosca a sua perna.


Depois do botequim,

eu me jogo em frente ao seu tamborim

e te devoro até o fim.


E tudo o que me resta

é seu toque e seu calor nesse fim de festa,

só, e somente isso me interessa.


No espelho do banheiro eu repito pra mim mesma:

nos dias em que a física sobrepõe-se a metafísica, é melhor deixar a alma em casa e sair com a roupa do corpo.

Nota: é que ela, a menina dos olhos sempre tão delicada e meiga, acordou hoje como uma puta amanhecida cheia de classe, sem nenhum traço doce.
Não demorou muito passou seu batom vermelho, bebeu a dose toda de uísque, e depois escreveu essa merda que vc leu!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Retalhos


Deixe-me aqui.

Sentada nessa praça onde não mais te vejo.

Com as lembranças mais doces ainda presentes.

Em meio a sua ausência fria.

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Deixe-me assim.

Guardando ainda o cheiro do mar e o gosto do vento,

entre a sua cor e o seu jeito, com suas as carícias eternas.

Como aquela que coleciona retalhos de si.

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Deixe-me agora.

Vomite para fora toda a sua dor,

rasgando as fotos e queimando o passado

Que ainda não passou.

-

Deixe-me aqui.

No mesmo banco de concreto

Que você esmurrou, mas não quebrou.

Com o mesmo carinho no sorriso que você provou.

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Deixe-me assim.

Com a delicadeza de quem aprendeu muito, meu bem.

Entre os tapas mais belos, o degustar singelo,

que nos ensina a escolher dentre todos os retalhos, aquele com gosto de caramelo.

-

Deixe-me agora.

Leve consigo seu orgulho ferido.

Invente suas mentiras e se engane muito pra tentar me arrancar de você de uma só vez.

Só se lembre que eu guardo comigo os retalhos coloridos, e essa longa embriaguez.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Aquela que ninguém viu

Ela dança, se mexe.

Remexe a cintura.

Procura algum pedaço de si

Jogado na lama do chão.



Ela olha pra frente,

Vira de lado.

Pisca os olhos,

Tentando tirar o cisco que caiu no seu coração.



Ela mima, cativa

Sai distribuindo carinho

Tentando saber qual o caminho

Que a leva mais perto daquilo que a fez perder-se de si.



Ela brinca, exagera

Encara o mundo como criança

E se cansa dessa tola ignorância

Da forma mais sincera e bela.


Ela rodopia, se arrepia.

Procura em seus pensamentos

O sentido da correria do vento.

Vai-se indo pela rodovia.



Foi-se,

Perdeu-se.

Não se viu entrar nem sair de cena.

Ela é aquela que ninguém viu.


domingo, 14 de junho de 2009

A cor dentro do corpo


As cores mais quentes e mais atraentes.

Cada som tão carregado de si que carrega o mundo para dentro de mim.

O fluxo veloz e alheio que me transforma em espectador do mundo.

A atenção focada em tudo,

a cada parte da cidade.

O coração pulsando cada gota de mim de forma gritante para que

finalmente eu de fora me escute em silencio por dentro.

Pulsação em ritmo de samba-groove que acelera meu desejo de engolir o mundo.

Como a antena que capta cada mínimo sinal,

eu me sintonizo com a vida.

Sem entender a velocidade externa eu por dentro me apresso com minha

pressa em sentir tudo até o fim.

No desejo de ousar e experimentar ser-se como nunca se foi de um jeito ferozmente vivo.

Na ânsia pela emoção e por cada sensação que mesmo pequenas se tornam fortes e penetram dentro do vazio do coração.

É nesse ritmo da vida,

nesse embalo do mundo,

sentindo todos os sinais tão intensamente,

internamente.

Enxergando as cores com a alma é que eu começo a perder o controle de mim.

Como se não aceitasse deixar o mundo entrar pelos pulmões e me invadir assim.

Só eu tenho esse direito aqui.

Sim.

sábado, 6 de junho de 2009

Me sobra delicadeza


Você precisa mendigar algum pouco de amor pelas noites geladas ou em qualquer colo sozinho, para só então se amar, meu bem.

O meu jeito de lidar com o fim do amor é outro. Eu preservo um tanto seu em mim.

Sem esmola por ora.

Deixei o porta retrato ainda intacto.

Junto ao medo de mexer em algo que ao ser guardado no fundo de algum canto, ali permanecerá.

As trilhas diferentes revelam um silêncio interno perturbante, intrigante.

E a poesia não tem magia.

Só agonia.

Minhas escolhas, meu caminho…

Só meu.

Direção contrária ao seu.

Como a poetisa e o plebeu.

No meu ritmo o som é experimentalmente denso, intenso.

Nas madrugadas afora vejo que me sinto inteira dentro do eu que sou agora.

Perto de tudo que sou e daquilo que jamais fui antes de começar a ser.


Olho pro buraco que fizeste em mim.

Ainda assim, com delicadeza vejo a beleza de sentir a dor pura pelo valor da experiência.

Reverências!

Eu harmonizo as mais diversas energias que provocas em mim.

Exploro-as sem fim.

Tim-tim.

Nos eternos brindes noturnos sinto minha liberdade em um grito mudo de alívio.

Preço alto, noite longa.

O mundo volta a fazer barulho.

A novidade mostra o futuro.

Eu me orgulho.

Com orgulho duro no escuro.

Quanto ao escudo?

Digo que permaneces tatuado em mim.

Mas que eu bebi de ti todos os goles até o fim.

Segredo meu dentro do camarim.


Eu guardo a doçura de cada ternura.

Tentei de uma forma madura,

em meio aos seus gritos de loucura.

E fúria.

Na fortaleza de um, a fraqueza do outro.

Peço-te franqueza. Vou-me à francesa.

Me visto com o vestido de menina boneca desprotegida e ferida.

Guardo o espartilho e a cinta liga de mulher decidida.

Meu equilíbrio externo ofuscando a desordem interna.

Lobos se atacando em noite de lua cheia.

Por que tanta delicadeza pra falar de sentimento?

Pra que tanto sentimento sem delicadeza?

O furo que deixaste aqui dentro é do tamanho que necessitas para partir.

Vitória minha em sentir.

Ou não.

Vá então!


Do lado de fora tenho a certeza de dentro que eu beberia cada gota dessa dose amarga de novo.

Do mesmo jeito no meu peito.

Erraria cada erro que errei.

Deixaria doer toda a dor que dói.

Só para sentir outra vez tudo o que há dentro de mim como senti.

Fico aqui, sensível a cada sentimento meu.

Experimentei-me de todas as formas, por completo.

Confesso,

por vezes sem delicadeza alguma.

Eu me amassei nos seus rascunhos ainda dobrados.

Guardo comigo, com carinho cada palavra das cartas rasgadas.

Dispenso personificações.

E te expulso dos meus pulsos, por impulso.

Já que me sobra delicadeza.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Livre Sem Dosagem


Eu não posso falar da beleza com clareza.

Entre tudo de lindo experimentado e explorado houveram intensos e imensos sentimentos alcançados.

No contato com limites internos e externos desenhamos o mundo de forma menos imaginária.

Ou mais…

Ápice de emoções puras e escuras que revelam a fragilidade das coisas sólidas e leves.

Entre a linha tênue que separa a felicidade do medo, ousávamos o novo.

Em algum momento o sonhou de novidade mansa se foi.

Acabou-se.

Não se esperava ainda o pesadelo.

Nem tanto a realidade crua, nua.

Nos desenhos animados se definem melhor heróis e vilões.

As figuras reais se confundem, nisso me confundem.

Seres confusos como nós, hipócritas. Eu e você, meu bem.

Entre o controle e o desespero aquela cena fixa que ainda palpita fundo.

Mãos na cabeça,

olhares perdidos

e o peito pulsando a dor que doía tudo que enterramos dentro do vazio oco de nós.

Cérebro que vomitava os pensamentos de todos os seres perdidos.

Enquanto a pulsação acelerada mostrou a vivacidade daquela cidade.

E no desequilíbrio do corpo encontrou-se o peso da alma escondido na matéria grossa e frágil.

Não menos suja.

A pressão alta explodia em surto a magia e a beleza.

Agora sim, com clareza.

Clareza essa que só nós é que trouxemos

no bolso da frente do músculo estriado cardíaco.

Já é noite, estamos de volta na escuridão.

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