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domingo, 20 de dezembro de 2009

Passageiro sangrento


Sobre o tempo

aquele suspiro quase frio

que quando passa

leva no vento

sombra breve

mansidões e tempestades

feitios de passagem.


Sobre aquela coisa

que não é

nem não foi

outra ainda

alguma qualquer.


Não foi sendo por amor

nem por não-amor

foi sendo por mim

por algo que por ora

guardou-se aqui.


O conflito era meu

tomei-o todo com minhas próprias mãos

ainda sujas

cheirando a sangue.


Aquilo não era por mal

era por algo dentro do eu

que me fazia ser assim

nem mesmo era por ele

jamais o foi

ali, só existia aquela outra coisa

que não era nem ele

nem nada

um pouco de eu

calado apenas

vazando por entre gotas

repletas de sentimentos

vazias de significados.


Era como se eu estivesse

ao mesmo tempo

acima e abaixo de todos

escorrendo de mim

meu ser já derramado de si.


Estava além

de explicações

além de palavras

além de regras

além de medos

além de mim,

muito além.


Estava aqui.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Rodopio as avessas


Aquele cheiro do mundo

ainda tinha o mesmo cheiro.


E nas rodas

cada vez mais velozes

eu procurava algum sentido

pra permanecer ali.


Não encontrei.


Mesmo assim continuei

aqui estou.


Era como se as coisas passassem…

passassem por mim

era como se eu passasse.


De repente, passei.


Aquilo que sempre nos fazia

e fazia de nós o que éramos

de repente

não mais nos fazia,

não mais nem éramos.


Não somos ainda.


A roda

aquela que nunca parou de rodar

ainda roda

e eu

rodo com ela.


Sempre rodei.


Permaneço rodando

como todos os outros.


Ainda permaneço.


A roda, agora

está toda do avesso.


E eu?

aqui, ainda.


Rodo com ela,

comigo.


Roda sozinha.




quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entre linhas


Meu máximo e mínimo

a cada instante

no teu seio

sendo explorado

extorquido

quase arrancado

por tuas mãos

leves, doces, ternas.


Bocas ao devorar salivas

entrelaçando sabores

atirando-se ao desejo vil

estéril pecado

brindado a corpos nus

perdidos à procura

do gozo de loucura.


Entre asas e pernas

nalgum naco de alma

que vem a tona

e milimetricamente

se revela tão exposto

quanto cadáveres abertos

onde a sorte moribunda

nasce já enraizada à morte

e se desfaz ao extrair-se de si

toma-se toda

parte por parte

cavando sua dor

no suor do prazer

que está além da carne.


Outrora eu vi um risco

o espaço era todo entrerriscos

como um limite de ser

circunscrito-restrito

num horizonte já quase sem cor

que desesperadamente

quebrou como a mais fina das taças

e em cacos se libertou.


Entre cacos

entretanto se refez

e ainda no pulso

daquele delírio excitante

revelou uma profundidade

além dos riscos.


As auroras trazem consigo

a cor de sangue escorrido

que enrosca nossos sabores.



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