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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Hoje: sem anti-depressivo


Eu procuro algo prático e esteticamente estratégico para falar do sentimento enérgico e não menos elétrico e histérico que carrego comigo.

Procuro algo que me desequilibre e que nesse deslize eu eternize a minha vertigem.

Que no compasso desse inchaço, cansaço… desse mormaço já escasso no fim do laço entre o maço, que nenhuma fumaça abafe isso que extravaza entre as palavras.

Primeiro combustível, depois fogo. Hoje eu quero que queime, arda a dor estraçalhada, esmiuçada, estragada, extraviada, rasgada.

Deixe que invada.

Pegue a faca e agora cutuque, primeiro de leve depois com toda a força possível, passível. Faça estrago, buraco.

Quero que sangre o sangue talhado, o coágulo, o nódulo e o resto de mim.

Quero vomitar o cisto. Jogar para fora o câncer. Tossir tudo que engasga. Gritar tudo o que abafa. Transpirar o que absorvo.

Desse jeito cortante, marcante, macabro. Pacato.

Deixe corroer como ácido em carne viva.

Agora já mais leve, mais limpa.

Sei e posso dizer então que sinto.

Tudo isso porque ontem eu acordei oca e vazia de mim, como em dias normais.

A partir de hoje é assim.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mais que dois


Por simpatia ele me espia.

Pela vontade há liberdade.

Com manha ele me ganha.

Com vinho tanto carinho.

Por desejo o ensejo.

Pela atração grande emoção.

Com medo ela vai cedo.

Com o vão no coração.

Pelo charme arraigado a carne.

A carícia e a malícia.

Sobra o encanto que faz do pouco um tanto.

Pelo afeto que me afeta.

Pela denúncia há renúncia.

Com o frio desse arrepio.

À margem sem coragem.

Por agora devo ir embora.

Pela pele nada repele.

Ora ainda, ele namora.

Com ensaio aos poucos eu saio.

A rima tenta e com isso inventa,

a ousadia da poesia

o sentimento desse momento.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

À ela


Esconderijo secreto e intocável.

Desconfiança eterna, interna.

Superficialidade exemplar de tão ensaiada.

Medo. Só o medo.

Faz-se extremamente necessário falar do medo.

Sem citá-lo a fundo, até porque não sabemos nada a fundo sobre ela.

O medo de sentir. Medo de explorar-se.

Aquele medo de sentir a dor que ela guardou no fundo de algum lugar secreto que se secreta aos poucos.

Tudo guardado e doído dentro de uma bela aparência em equilíbrio.

O esconderijo é profundo, tanto que talvez seja perdido, onde nem se pode alcançá-lo.

Falta mesmo a coragem de tentar encontrá-lo.

Perder-se daquilo que dói é mais fácil que mexer com a dor.

Ser gente exige algo que ela nunca ousou experimentar. Sentir não devia ser tarefa para os fortes.

Cutucar o lado dolorido e escondido é perder o escudo blindado e sair da casca.

Casca fina e grossa que já faz parte do couro.

Nem se sabe se a casca é toda ela, ou se a casca é o que a esconde dela.


Nada se sabe sobre ela.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O eu não meu


Vou lhe dizer quem sou para que você possa se afastar antes de entrar em contato com algo repulsivo e ao mesmo tempo envolvente. Tenho as melhores qualidades que até o pior ser humano carrega consigo. A racionalidade que me guia e me obriga cruelmente a seguir sempre junto dela faz de mim um ser paciente que necessita de cuidados especiais como grande parte dos pacientes. Creio que eu saberia exatamente o que sou, não fossem essas infindáveis e perturbadoras dúvidas que invadem a exatidão definitiva que eu não posso ter de mim. Quanto aos sentimentos, sinto muito. Tanto que às vezes me deparo com minha consciência invadindo meus sentimentos e indiscretamente forçando-me então a sentir até mesmo o que penso. Necessito pensar mais e mais a cada instante. Mergulho e afogo-me nos intermináveis pensamentos que fazem da vida essa incerteza tão certa que só nos resta pensar. Sou tudo o que vejo e que absorvo do mundo. Sou cega de mim e pouco absolvida também. Egoísta e prepotente como a maioria dos seres perfeitos. Incrivelmente crítica e segura como os melhores hóspedes das clínicas psiquiátricas invejariam. Minha completa sanidade jamais foi questionada, apesar de bastante testada. O equilíbrio que carrego comigo é sempre guiado pela justiça que eu mesma fiz para me julgar condenando como réu o conteúdo indecente interno meu. Seguir esses passos é mais difícil até que aprender andar sozinho. Além dos sonhos e desejos sou também as regras e repressões que expulso a ferro e fogo de mim, mas tantas delas permanecem intactas e escondidas como se eu mesma as protegesse de mim e não as deixasse partir. Esse longo texto confuso que não sabe o que diz ao tentar dizer tanto, só serve para provar que eu mesma não sei quem sou nem onde desejo chegar, apesar de saber ser como sou como ninguém mais sabe e de saber o caminho de mim como só eu sei.
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