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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Monólogo monótono


Mendigo minhas migalhas miúdas

moídas

malditas.


Mentiras molhadas

meu mel moldado

mudado,

maltratado.


Meses movediços

meu máximo e mínimo

ao mesmo modo.


Mente morta

malignamente minuciosa.


Mágoas maltrapidas

mutuamente mutantes

melindras mudas.


Mil marcas

molestadas

memorizadas

movidas à mórbidas minutas.


Minutos minúsculos

minudências móveis

minuanos macabros.


Metamorfoses motoras

moldes e medos.


Mudez mortal

malvada moral

mudanças no mural.


Metades meadas

músculos marcados

modelos menos macios

moldações medonhas.


Mensagem manca

mito morno

manchado de morte.


Minto,

meu momento de mimo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Menina quase borboleta


Ela olhava aquela cidade como quem também não era dali

as luzes contra os olhos

os olhos saboreando o medo e a angústia aprisionada.

Entre laços e beijos

havia mistérios quase inexplorados.

Eu me apaixonei não por ela,

mas por tudo que se escondia atrás dela.

A dama da noite, sem classe;

A musa de marfim, com uma pitada salgada.

Encantadora e quase perigosa.

Lacrimejava pelos cantos como mulher,

abria o peito e se entregava com jeito

feito atriz encarnando personagem que já existia dentro de si.

Ela jogava cartas como quem joga só para ganhar

e ela ganhava como quem sabe a hora da vitoria

nem antes, nem depois

o tempo certo, sempre cronometrado, sempre certo.

Pele doce, olhar gentil

a moça que sabia como ser tudo que era de um jeito só dela.

Colocava a colcha sobre seu rosto

tentando guardar dentro da colcha suas dores

ela era doída, bastante doída aliás.

Seu movimento era todo perfeito

usava o charme para tapar seu medo

ela sabia como ninguém

guardar-se dentro de si.

Ficava por ali numa paz estonteante

que só ela sabia alcançar

seu tormento cheirava segredo

tinha a cor de todo amor

despedaçado e moído

com o brilho certo de carinho cansado.

Menina, minha menina

de alguma forma eu preciso deixar escapar

sua confusão e seu medo me afastam

mas só seu olhar sabe como me atrair assim

não me declaro

agora eu me calo

e digo somente:

que eu sempre te amei.

Basílio Ferreira Filho

(uma face máscula de Fernanda Tavares)

domingo, 4 de outubro de 2009

Poeira invisível


Um sopro quase poético

leva a alma de encontro ao corpo

cheirando ao vento mudo

repleto de nada que não complete.


É como se o carinho

fosse coisa intrínseca

tatuada na pele frágil e densa e macia

como se as coisas fossem simples

feito o toque,

aquele manso e leve e silencioso

que traz consigo o sabor e amplitude do desejo.


Entre a carne e a não-carne surge algum barulho

aquele que palpita conforme o movimento dos corpos

nos delírios e suspiros a metafísica se encarna em física

pura e nua e crua.

Explosão súbita de valores e sintonias

captadas pela antena única e desajustada

de corações vagabundos sempre ao alcance.


Faz-se necessário falar do tesão

borbulhando como o cheiro da terra

ainda molhada

cavada.

Laços profundos amarrados no suor

de todo aquele prazer,

que não pode, não deve ser dito

foi gravado entre silêncios

e entre silêncios permanecerá.


Paredes abaixo

muralhas no chão

escudos dissolvidos

sentimentos expostos

conquistados e absorvidos e penetrados.


Como se além do céu existisse outra coisa

sem nome e sem cor

lá, só e somente lá

onde meus pés quase tocam o chão.

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