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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O fim, aqui


Sumir, em suma, somos.

Ser, crê-ser. Amadurecer.

No retrato, retalhos. Pedaços.

Nos passos, vários, falhos.

Nos amassos, laços. Traços.

Nas partidas, despedidas. Vidas.

Nas esquinas, minas. Mentiras.

De repente, tudo quente. Mente.

No nevoeiro, passageiro. Te leio.

Tudo do meu jeito no seu peito.

Enfim, o fim, aqui.

Olhar e dizer: Não te amo mais!

Mãos ainda dadas.

Corpos entrelaçados.

Olhares estagnados.

Desapego? Não, nada!

De nada.

sábado, 22 de novembro de 2008

Ser humano


O bom de texto grande é que ninguém lê. E o bom da vida é que ninguém sabe o que vai dar no final.

A vida passa, o tempo passa e as pessoas simplesmente passam. Passam como aquele calafrio mórbido que vem e passa. Na verdade nada é tão simples como indica a teoria. É que a prática exige coragem. Arriscar muito. Talvez seja mais fácil dizer que a simplicidade teórica sempre me interessou bastante.

Ser humano é ser aquilo que não deixa nada passar. É ser aquilo que quer beber até o último gole de vida. É ser aquilo que quer amarrar tudo e todos a si, bem ao seu alcance. Quer segurar a vida , o tempo e as pessoas com a mão. Doce ilusão dos sãos.

Ser humano é ser todas as regras impostas e ao mesmo tempo discordar de todas elas. Só pra constar. É ser a pura desordem em ordem sistêmica. Choque contínuo, confusão permanente.

Ser humano é ser egoísta. Parte dolorida e antes que os socialistas descubram: és egoísta, e então és humano por conseguinte. Pensar em si sempre, até ao adormecer. Ora, claro, mereço viver e aproveitar muito antes de envelhecer e morrer. E ser também, e sempre, um ser social, embutido e plantado firmemente no solo da sociedade, um ser que precisa (infelizmente, ou não) do outro.

Ser humano ás vezes é ser sozinho, outras vezes é ser multidão, tumulto. O mais difícil é ser solidão. Ser gente é ser tudo que está explícito e óbvio que se é, mas é principalmente ser aquilo enterrado e proibido.

Ganhar, ora, todos nasceram sabendo. Perder poucos aprendem antes de morrer. Falar em antes de morrer é como falar de futuro distante, imprevisto. Nem parece que nosso antes de morrer é agora e somente agora.

Sonhar deve ser coisa inata. Fazer não foi fácil aprender. Mas a verdade é simplesmente que isso todos superam, volto a falar em teoria, ou vivem maquinalmente como algo pronto a sempre se superar, ou não, mas prontos a esquecer a parte trágica de ser que todo pedaço de ser carrega consigo. Escondido, partido.

Falta ainda desapegar-se e lembrar que as coisas passam, e as pessoas também…

Ser humano é ser mesmo essa coisa que só sendo a gente aprende a ser. E mesmo assim, muito decorado e mal aprendido, feito tabuada do 8.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Aos amantes mutantes


Minha cor, meu tom, meu som.

Sua pele, seu ritmo, seu íntimo.

Minha cara, sua tara, nossa dança rara.

Minha doçura, sua ternura, nossa loucura.

Meu jeito, seu peito, nosso leito.

Meu vinho, seu carinho, nosso ninho.

Minha roupa, sua boca, noite louca.

Minha aurora, sua outrora, nosso agora.

Meu ente, seu quente, nosso lentamente.

Me arrepia, sua teimosia, nossa harmonia.

Meu amigo, meu sentido, meu querido.

Sua vida, sua ida, seu ponto de partida.

Sem freio, sem meio, sem medo.

Me adora, agora, embora.

Embola, rola, olha.

Ora, hora, chora.

Razão, emoção, confusão.

Confissão, fixação, explosão.

Pedaço, laço, traço.

Rastro, retalho, retrato.

Tempo, vento, momento.

Invento, tento, sentimento.

Cala, fala!

Mente, sente!

Queima-se, esvai-se!

Eu respiro seu suspiro, apenas piro, me viro…

domingo, 26 de outubro de 2008

Pra não dizer o que calei


Amo, e jamais poderei te perdoar por sentir-me assim.

Amo aquilo que vem, fica e vai embora.

Amo o breve instante que demora.

E não poderia amar mais de outra forma.

Todas as chuvas caindo, jardins floridos,

e todas as borboletas e pássaros que voam na sua velocidade.

Amo viiver do sentimento que invade meu ser, amo me ser vivendo amor.

Posso falar das carícias, dos beijos e principalmente dos abraços.

Entre a intimidade muda o sorriso singelo que traz olhares mansos e penetrados.

Posso também lembrar-me dos momentos, demorar na infinidade de cada momento.

Naquilo que sinto trago comigo rabiscos seus que jamais poderão se acabar.

No espelho um olhar perdido que se encontra ao te procurar.

Nas lembranças, vivências e memórias pequenas, algo que fez de mim o que sou.

E por mais que eu tente arrancar tudo de mim, sei que eu me rabisquei nos seus rascunhos amassados,

e sei que jamais poderia ser o que sou, não fosse cada letra das minhas frases no seu papel ainda dobrado.

Dentro de mim sinto-me invadida por esse sentimento que me faz ser todo o amor que sou e que sinto antes de partir.

Preciso apenas sentir, isso que não sei como se sente. Um dia, tavez!

|ler Vinícius de Moraes e Mário Quintana faz bem, traz um jeito diferente de falar das coisas, um jeito romantico antes nunca expreimentado. Reconmendo!| ;)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Contato íntimo

Escrever e somente assim sentir-me lá dentro de mim, quase perto do eu que sou. É somente nesse instante em que escrevo, nesse tão breve instante que passa e passou, que posso então entrar em contato comigo. Nem antes, nem depois. Durante e brevemente apenas.

Ao ver as palavras emparelhando-se assim, posso então ver-me, não nelas, mas em mim, e posso sentir-me como sou. Só e somente assim. Entre tantas palavras vazias de si, um sentimento completo em mim. Na melodia muda das frases emparelhadas encontro meu tom e meu ritmo, lá, dentro de onde estou em mim.

Guardada a chaves e muros, perdida entre tantos eus perdidos, escondida no labirinto interno inacabado, sufocada de superfícies leves e quase apagadas, deitada dentro de mim saindo depressa por entre essas linhas rascunhadas no escuro.

Como cada palavra sozinha ao perder-se do texto não pode significar nada além dela mesma, olhando dentro de onde estou posso ver-me sozinha e transformar-me em algo visível, lanço minha visão confusa no mundo e nisso desfaço-me toda de mim.

Assim como aquele que escreve precisa do papel, eu para me ser, mesmo que brevemente, preciso escrever. Preciso deixar mostrar tudo de mim que eu escondi e guardei. Tudo está aqui, nessas palavras vazias que não podem ser e que não são nada de mim. Sou eu.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Fica só entre nós


Entre o consciente e o inconsciente, aquele sopro elouquente que te faz gente, e só você sente. Sopro tão de repente que cala o consciente, abafa seu conteúdo mudo, miúdo, e agora, você chora.

Derrama no fluxo veloz do mundo em movimento, sem tempo, um outro tempo que vem de dentro, e esse não passa, não há movimento. Você senta e pensa, e entre o consciente e o incosciente se faz gente, e nisso mente. Por dentro é tudo quente, fervente. Por fora, ora, você chora.

Por dentro uma máquina humana. Ainda lá dentro, algo que não é, nem nunca será, uma máquina. Por fora, tudo desumano. Por dentro, tantos ‘eus’ que não podem ser apenas um. Por fora, algo mutante a cada instante.

Entre opostos e semelhantes há apenas a igualdade desigual que faz do norte algo tão desnorteado.

Entre o cérebro e o pensamento tudo aquilo que te lança no mundo de forma ímpar, aquilo que te faz humano, como jamais poderia ser, se não assim sendo.

Entre a dúvida e a certeza, o soluço e o suspiro.

Entre a razão e a emoção, a lógica e o sentimento.

Entre o corpo e a alma, eu e você.

Entre essa loucura sã e essa lucidez insana, o nosso silêncio.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Perder e partir


Perder. Como aquele que perde e nisso perde-se.

Poder, e sempre não poder parar de perder o perdido que partiu. A dor que parte. Partem vários, tantas também.

E eu ainda estou aqui perdido, partido. Muitos perderam-se de mim. Os que partem e não voltam. Ou que voltam, mas não aqui, não para mim.

Perdi. Perdi como aquele que sabe perder alguém. E também como aquele que sabe perder algo. Perdi. E perdi como aquele que não sabe perder. Perdi como eu. Como você. Perdi, e agora sei perder. Tanto como eu e você não sabemos. Perdi e nunca quero voltar a perder. Nunca saberei perder tudo aquilo que perdi.

É que perder não é para mim. Não, jamais nasci para perder. Eu e todos. Eu e você. Nós que perdemos todos os dias sem saber perder. Perco esse orgulho partido que nunca partiu.

É, a dor de perder dói mais que as outras. Orgulho não era partido, era inteiro. Era tudo meu e nada devia partir. Nada devia perder-se de mim. Me perco nos meus perdidos. Partiu-me. Perdeu-se…

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Confissão confusa


Desórdem. Desequilíbrio. Murmúrios lentos também. Desapego não, nenhum ao menos.

Preço alto, tempo curto. Tudo contado, tramado. Nada equilibrado. Entre a paz e a guerra, o amor. Sim, aquele amor que põe à mesa a bagunça minha, só minha do dia. Somou?

Tanto medo acumulado. Confusões de sempre em perfeita órdem, o resto não. A minha desódem, ainda demorada, fingida, polemizada.

Não deixar acabar o que nunca sequer existiu. Não escorre da minha mão, não agora. Minha órdem tirana. Não deixarei cair jamais isso que nunca esteve de pé. Não enquanto meu tolo eu não tiver dado a órdem para derrubar de uma só vez. Só aí derrubem. Não, só eu derrubo!

Mas o sentimento existe ainda. Aquele que só eu sinto, que só eu minto. Sentimento e fermento. Finjimento? Esse meu mantimento. Fora de controle. É meu o controle. Mentira minha também.

Sair pela porta que eu entrei, tranquei e perdi a chave. Nunca tive a chave, só o chaveiro vazio. Chaveiro de mais uma das minhas confusões, confissões. Confesso. Confuso?

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Texto de ontem...


Tempo, tempo, tempo…

De lá logo vem ele de cá, e de cá pra lá sem a gente perceber que ele já se foi, já era, é só saudade agora.

Aquilo tudo que foi, vem na lembrança agora tão breve, tão só, tão suave, manso e mudo também. Vem agitando e contagiando. Vem trazendo mais, mais e mais saudade.

Máquina do tempo. Desejo de hoje, ontem e sempre. Bastante ontem. Bastava ele, o ontem aqui hoje. Nostalgia profunda agora. Inútil e tremenda também. Demora nisso, perde tempo na saudade. Enquanto passa o tempo, a saudade não passa. Nem a nostalgia invasiva. Mas o tempo, passa. Passou…

Passou o ontem, o agora e até a saudade. Não. Saudade não passa. Esquece, às vezes. Aquece, outras vezes. Permanece, todas as vezes.

Saudade pra quê? Saudade pra sempre..

.

…para dar a certeza de que o tempo vale à pena. Pena que passa. Passou…

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Seguir, cegar


Tudo vejo em ti, nesse curto espaço de mim. Ao sentir, aprender. Ao aprender, somar. Somos?!

Buracos vazios, outrora cheios, preenchidos. Dúvidas e medos embaraçados no calor de dentro do frio de fora. Descobertas, paixões, emoções entrelaçadas no frio de dentro do calor de fora. Perdidos. Perdição. Quem são?!

Nos eternos embaraços, momentos eternizados em pauta breve, passageira e eterna de tão mista. Medo misto agora. Não mais. Falta de medo em poucos instantes longos. Segurança ingênua e completa regada a mimos pequenos. Nada breve. A mistura de tudo nos desenhos de nuvem. A certeza de cada coisa ao cair da noite, e, ao amanhecer, pode-se enfim sentir, enfim partir. Parte-se ao meio essa metade para dar idéia de pequenez na parte de toda a grandiosidade muda, surda, e por que não cega?

Cegue-se. Segue-se agora! Cegos sem rumo.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Conflito e fritas


Os momentos eternizados a cada instante. Aquela cansativa braveza das coisas. A beleza de cada parte. A chatice do todo. Confusão intacta de dentro, calmaria de fora. Vice-verso.

O intocável de mim exteriorizando-se à 160 Km/h. A vontade de vir à tona a cinco passos do naufrágio. Nasce daí o calado sentimento. Submerso abaixo de todo o oceano, lá sim, se emerge ele aos poucos.

Um pouco de tudo não explica nada. Em cada silêncio o grito de medo, dúvida. Em cada grito aquele silêncio confuso, estonteante. Aquela loucura mansa na confusão agonizante.

Bravo! Bravo! Uma conquista por segundo prestes a morrer no esquecimento. Não frio, morno agora.

O que se sente morre no vento congelante que sempre bate no escudo, e não perfura. Escudos abaixo, agora já mais perto do medo de começar a sentir aquilo que nunca ousou sentir. Agora tão perto, que os olhos se cruzam naquela distância dos pólos. Distância fulgáz, traz consigo o passageiro próximo.

Ainda naquele momento mudo ouve-se a voz que diz "é tudo mentira".

É perto demais pra deixar. Hora de partir ou hora de ficar?

A meia luz traz esse reflexo…

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ama, anda


De tanta semelhança nasce a cumplicidade eterna daquilo que não tem fim.
Inatingível de tão puro, tão raro. A paz que só vem de de todo esse equilíbrio estático que tira de um, o que completa o outro.
A outra parte que fica fora de mim. E daqui eu sinto o mesmo, aí. Aquilo tudo que completa.
O entendimento mútuo e manso. No olhar a voz que me lê por dentro. Voz única e breve. Que alcança além do escudo, lá no fundo.
Aquela certeza ímpar do sempre. E a eterna fonte de força. Incansáveis lágrimas que não se alcançam, e se unem. Risadas breves para cada sonho longo. Abraço apertado que faz a radiografia completa do pedaço de suspiro meu que não veio de mim.
Entre todas as dúvidas é nesse mínimo instante que vem a certeza que o início disso tudo não foi aqui. O brilho constante de tudo vem da lembrança esquecida no além, distante.
E tudo o que eu não acredito, nesse instante eu posso sentir, tanto.


"É que eu preciso dizer que eu te amo, tanto!"

domingo, 20 de julho de 2008

Fixação


Aquele olhar que depois de tanto viajar dentro de si, finalmente alcançou-me assim. Penetrou, paralisou, olhou-me de um ângulo desconhecido. Firmou os olhos, e assim, fechou-os calmamente numa mudez gritante.

Aquele olhar. Nada mais. Nenhuma palavra, alguns suspiros, vários embaraços silenciosos.

Entre o medo e a descoberta, todas as coisas. Em cada coisa uma descoberta de medo. Um medo de despir-se da tão pesada armadura. Confusão, confissão. Mais embaraços, outros tantos.

A frieza indiferente arde-se em fogo. Queima-se nele ao regar todos os dias o gelo inderretível. Aquele pouco de água fria que sempre resta quando falta. E aquece.

No enlace a tensão da frieza morna, agora ainda. No medo o desejo da calma turbulência pertubante. No meio de tudo, e desconhecimento tão próximo de si, de mim. No final, tudo aquilo de infindável construído nesse instante de loucura.

Luta. Constantes inconstâncias que não deixa que nada tome conta. A falta da entrega. Essa demência aprisionada assustadoramente dentro do esconderijo. Já aberto ao vento, ou não.

Aquele olhar ainda lá, ainda fixo, e não menos perdido.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Perfeita ordem


Eu posso perder tudo. Só não mais perder-me assim.

Preciso sentir intensamente. Sentir-me mais.

Olhar para dentro e num corte transversal encontrar somente a falta de estar perdido. Tudo no lugar, menos isso.

Nessa falta eu me encontro, me escondo, só nessa…

domingo, 15 de junho de 2008

Sinto, logo existo


A complexidade de tudo aquilo que faz parte. A complexidade de tudo aquilo que te faz.

Falta de entendimento interno. Falta de órdem entre o eu lá de dentro e a superfície externa dele.

Abismo. Entre o meu eu de lá e meu eu de cá. Onde estou? Sinto. Sentir me faz querer chegar em mim. Onde nunca estive. Lá dentro, dentro de mim, é só lá que eu começo a sentir-me. Tanto. Antes de tudo preciso de ar e puxo o ar para dentro tentando assim me respirar, tento puxar para dentro de mim tudo que sou e que não sei onde está. Agora não, eu só preciso de ar!

Sufocada de mim.


Fernanda Tavares

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Ilusão insana


Intocável. Inatingível. Impossível. Inacessível.

Isso sou de mim, e todos somos de nós!

O ‘eu’ que vejo de mim é sempre vago de si, pois ele nunca está completo, sempre há os buracos vazios que carregam o peso de ser o ‘eu’ que nunca sou, mas que tanto acredito ser.

Busco-me, impossivelmente a cada dia. Preencho-me e encho-me de buracos de mim, intocáveis. Cegueira, daquelas que não te deixa nem mesmo enxergar-se. O que vejo de mim é tudo aquilo que não sou, mas que vivo buscando ser. Ilusão dos sãos. Morrem com seus projetos de ser impossíveis de ser em si, morrem sem ser o que sempre pensaram que fossem.


[Como todos nós. Amém.]


Fernanda Tavares

terça-feira, 3 de junho de 2008

Pedaço do todo


Saudade. Essa palavra pesa o peso que nenhuma outra no mundo já ousou pesar tanto. Pesa o peso que parte ao meio para deixar partido. Parte-se.

O silêncio traz a escuridão e junto a ela sempre par para a solidão. Sozinhos. A dor de estar a sós, consigo. Consegue?!

Aquilo que vai. Te deixa e te parte. Não ao meio, por inteiro. E não te leva, você fica! Foi-se como foice rasgando dentro, profundo lá fundo. Afunda agora nesse silêncio que traz com ele o grito mudo de dor inteira. Acende-se a luz, tá escuro e ninguém te ouve…

Fernanda Tavares

domingo, 1 de junho de 2008

Overdose de ser


Eu sou tudo aquilo que desconheço em mim, sou também o que conheço. Talvez não, não tanto. Sou ainda tudo o que não entendo e o inacessível que sempre fui, isso sou. Sou todas as partes intocáveis de mim. Ora, essas que eu muito escondo, essas que nunca se escondem de mim…

… e o que sinto. O que finjo que não sinto. Sinto muito. Tanto que não sei não sentir. Sentir tanto me incomoda, nada também, e a falta de sentido.

Busco, talvez sentido, talvez sentir, sentir o sentido de sentir…

Desconheço-me. Não, de mim nada entendo e nada sei, me escondi tanto que não me achei…

Quero sentir, sem sentido.



Fernanda Tavares



[sem mais.]

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Hello stranger













Eu guardo comigo o passado e tudo aquilo que com ele passou. Eu passei.

Olho para traz e paro exatamente aqui, nesse passo, nem meio à frente. Paro aqui, para daqui olhar lá. Assisto todo o devaneio nostálgico e íntimo que por ser assim tanto é esconderijo de mim mesma.

Vejo no sonho interno cada pedaço de mim microscópico que nunca ninguém chegou perto. Sinto-me em mim, lá dentro sufocada de tanto me ser. Paro tudo. Quero morrer nessa overdose de ser que sou agora.

Sou, portanto, só isso. Sou cada pedaço que ficou, cada parte que nem não cabe mais, mas é só lá que sou. Nesse tanto de eu em mim, sou lembrança de ‘eu’, lembrança de mim…



Fernanda Tavares

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Macabéas em mim!


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreprodúzivel, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."

[Clarice Lispector]

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. (…) A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. (…) quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. (…) Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados. (…) Ela sabia o que era o desejo - embora não soubesse que sabia. (…) A maior parte do tempo tinha sem o saber o vazio que enche a alma dos santos. (…) Só que precisava dos outros para crer em si mesma, senão se perderia nos sucessivos e redondos vácuos que havia nela."

[Clarice Lispector, em A hora da estrela.]

"O mundo inteiro teme a própria vida. A morte é coisa que não é nossa. Mas a vida, a vida é, e eu morro de medo de respirar."

[ Clarice Lispector ]

E no mais, eu me escondo nisso…

Nada além de esconderijo! :*

sábado, 24 de maio de 2008

Ah, Clarice!


"O que eu sinto, eu não ajo. O que ajo, não penso. O que penso, não sinto. Do que sei, sou ignorante. Do que sinto, não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira em que vivo. Suponho que me entender não é uma questão de inteligência, e sim de sentir, de entrar em contato… Ou toca, ou não toca. Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária. Liberdade? É pouco. O que eu desejo ainda não tem nome. E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar."

Clarice Lispector

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Affonso Romano de Sant’Anna


Affonso Romano de Sant’Anna ( escritor mineiro )

A comunidade precisa matar o passado para ter alguma esperança no futuro.
A construção do silêncio exige muitas palavras. O escritor, por exemplo, constrói uma casa de palavras para ouvir seu silêncio interior.
A língua é a essência de uma nação (indígena ou civilizada). É o móvel de identidade psicológica e cultural. Por isso todo dominador começa por proibir e destruir a língua do dominado.
A moda é dinâmica, mutante, passageira. O costume é estático, duradouro e aspira à continuidade.
A poesia pode comover. A poesia pode fermentar a história. A poesia resiste e sobrevive às engenharias estéticas e genéticas.
A pretensão de todo poeta é ser um jornalista da alma humana.
A violência sempre esteve ligada ao poder. E a violência masculina é um exercício perverso do poder.
Amor é uma tarefa a dois e um aprendizado ininterrupto. É ele que dá sentido ao desejo e enraíza a paixão.
Cantor, poeta que fala do social e que socializa ele mesmo seu modo de produção estética, Chico Buarque, por outro lado, tem aquilo que deveríamos chamar de síndrome do Rei Midas: converte em sucesso tudo que empreende.
Compositor, teatrólogo ou romancista, Chico nunca se afasta muito dos seus temas prediletos: os marginais, os anti-heróis, os infelizes, os desvalidos. E sua defesa deles é tão inflamada e sincera que muitas vezes se confunde com profunda identidade.
Democracia não é apenas uma prática a outros delegada, senão algo que se pratica em todas as instâncias.
É no poder que se conhecem os verdadeiros democratas.
Em "Amanhã há de ser outro dia", esse outro dia de paz tem um sentido individual e social. É a paz entre os amantes, a paz entre o povo e seus dirigentes, é a paz entre os povos.
Falar uma língua estrangeira é romper uma fronteira. Falar muitas é romper várias.
Não se pode calar um homem. Tirem-lhe a voz, restará o nome. Matar, sim, se pode. Se pode matar um homem. Mas sua voz, como os peixes, nada contra a corrente, a procriar verdades novas.
O carnaval é basicamente um movimento diluidor da rebeldia.
O ceticismo é o barateamento de uma certa filosofia. O cético não vive, desconfia. Não participa, espia. Não faz, assiste.
O desejo pinta e some. A paixão explode. Já o amor é um desejo que se aprofundou e uma vivência intermitente da paixão.
O mistério começa do joelho para cima./ o mistério começa do umbigo para baixo/ e nunca termina.
Os mortos podem ajudar a ressuscitar os vivos.
Quem repete linguagem velha não está falando, está sendo falado. A linguagem é o homem e o lugar que ele ocupa no mundo.
Réu primário é como se estivesse dizendo que todo o mundo tem direito de matar alguém, inconseqüentemente, uma vez. Só depois é que se torna criminoso.
Sem o mito do amanhã não existiríamos. Não fora o amanhã e secaríamos à beira dos caminhos, esboroaríamos como um cascalho no deserto. O amanhã é que fermenta o hoje, que fermenta o ontem.
Toda vez que um oprimido reclama seus direitos, os outros oprimidos se sentem menos fracos.
Um homem não se cala com um tiro ou mordaça. A ameaça só faz falar nele o que nele está latente.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Breve verso









O sentimento move os versos,

mas não move o mundo.

O verso se carrega e se romantiza

o mundo não pára.

Todos sabem disso,

mas ninguém sabe de nada!


Fernanda Tavares

terça-feira, 20 de maio de 2008

Novalgina



Eu?! A falta de mim não sabe o nome que deram para responder quem sou eu.
Sinto. A falta de me sentir prova a necessidade dos sentimentos. Derramo-me neles, então. Sente-se? Sente-se.
Põe a vida para pensar. Pára e re-pára. Tanta falta faz tanta coisa. Remexer. Isso abre e reabre feridas e descobre as doloridas intactas deixadas guardadas lá atrás, onde talvez se fosse feliz como já não se é.
Tanto começo no meio dos fins. Falta de fim, falta de meio. Não, a pergunta não tem resposta. A resposta perde-se da pergunta na falta dela. Saber o sentido e buscar algum objetivo muito me interessa. Não saber, nem ter. Só isso.
Lá para o final do começo descobre-se a falta de sentir aquilo que nem nome não tem. No início do meio sabe-se que o fim já veio. Fim, dessa falta de ser.
Volto no início, que nunca não teve. Na procura indiscreta dentro de mim por algum vestígio do meu eu. Palmo a pequeno palmo encontro pedaços. Me encontro em pedaços. Só me interessa aquela felicidade que agora está no pedaço. No pedaço de cada pedaço por inteiro. Frio na barriga. Nostalgia. Novalgina.

Fernanda Tavares

Labirinto Particular


Fica-se tudo. Fiquei para traz, perdida em algum lugar do passado, em algum pedaço de ser que me era inteiro. Veio comigo o vazio, que caminha ao meu lado e não me deixa sentir solidão. O eco pesa no vazio e nas indagações que me preenchem sem sobrar espaço algum.

Escrevo para desabafar o nada e com ele aquela angústia. Aquele peso de angústia oca no meu eco. Busco-me desesperadamente dentro de mim. Procuro o meu eu. Procuro-me em mim. Em cada parte me encontro. Encontro o medo de voltar a mim como me era. Perco-me, então ão ão ão…

Fernanda Tavares

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