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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Encantamento poético


É com dificuldade que as palavras começam a sair

e deixam-se revelar a face escondida de algum estranho sem rosto

mesclam-se entre o dito e o não dito

dividem-se entre a confusão e a emoção

e fazem por si só

uma rima de saudadencantamento

que por aí revela segredos gravados em silêncio

estremecem minhas pernas e mãos

cravadas de admiração, desejo e paixão

junto ao som dos tambores ao alto

meu coração acelera a sua pulsação

e meu sangue ferve até aquecer-te inteiro

parte por parte

palavra por palavra


brindamos a libertação

como quem brinda a si próprio

foi te soltando de si que eu me soltei de mim

e nos amarramos num enlace de corpos e músculos cardíacos

que só o cheiro sabor dos extremos pode revelar


quanto as palavras?!

algumas não cabem em canto nenhum de nós

não foram feitas para serem ditas

e sim para serem sentidas


sentimos!

tanto que não podemos esmagar qualquer pálpebra molhada

para extrair sentimentos que se encaixem em definições exatas

erradas

subvertidas e entrepostas pelo mesmo abismo


fiz de mim um pouco do que pude

de você fiz um pouco de mim

e de nós nos fazemos entre rabiscos-riscos

palavras-papéis

beijos-sorrisos

olhares-gestos

e todo o resto

que me completa os espaços mais íntimos e ínfimos


você quando abre os olhos e sorri

brinca com o carinho

como uma criança brincando sozinha

e se revela a mistura perfeita

da pureza dos pequenos

com a grandeza das geleiras derretidas

da revelação e do esconderijo

da revolução e da convicção

do orgulho e do carisma

de um pouco de mim em um pouco de você


sua pele sobre a minha pele acalma meu sono

e seu olhar dentro do meu olhar reflete a arte de extasiar-se pelas coisas pequenas

sem voz sem cheiro

nem cor nem textura

pelas coisas que só importam às artérias de grande calibre

e aos lábios trincados de afeto

pintando encanto aos cantos e becos

que eu desenhei pra te encontrar

onde as pernas entrelaçadas estão agora já mais firmes

à espera de algum outro pôr do sol

que venha dar sentido ao samba doce que escrevemos sem rascunho

e completar a poesia pondo um pouco de amor numa cadência

no aperto de um abraço terno e manso e secreto.


Quero seu cheiro, gosto, toque

sua pele, seu laço, carinho

escritos nessa tentativa de te escrever

com minhas próprias mãos, calor, suor

corpo, mente, pulso

e qualquer coisa que não complete a eterna caça a palavras

que só existem no silêncio indizível das formas e cores


inebriantes

encantadas

inefáveis.



sábado, 20 de fevereiro de 2010

As coisas mais simples


Tem o peso de uma folha leve

o tamanho de um pedaço inteiro

o cheiro de uma flor suave

a beleza de uma paisagem distante.


Vem com o sopro

se amplifica por grandezas desconhecidas

se desfaz em milímetros

grava na eternidade seu rosto escondido.


Dia a dia

a gente inventa alguma razão

pra esse nosso hoje em dia.



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