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terça-feira, 27 de julho de 2010

O necessário do amor

Às vezes eu penso

sobre o todo não necessário que envolve o amor

e me derreto em lágrimas

só de olhar meus pensamentos

antes mesmo de experimentar ouvi-los.


É como se houvesse

uma busca interna para se banhar em ácido corrosivo

e destruir aquilo que te faz bem

por simples acesso à realidade instantânea e passageira

que antes até de se concretizar na existência

já se faz irreal e desnecessária.


É como olhar para si

tomado por um sentimento de não-sentimento por si

onde enquanto não destruir as próprias pilastras

e acertar no centro da sua dor

não se desiste de esquartejar-se minuciosamente.


Às vezes eu resolvo fechar os olhos para tudo isso

afastar de mim essa indelicadeza comigo

para que eu possa escutar o significado

de cada parte minha dentro de mim

ao invés de ouvir palavras e fatos por si só

que carregam de não-verdades as nossas quase-verdades.


É desacreditar no mundo

para acessar minha realidade inventada

e acreditar no meu jeito de ser a minha essência

até enxergar que meu vínculo comigo é o meu único essencial.


O necessário do amor

é só aquilo que continua a significar

mesmo quando não há sentido lógico;

é a porção livre de racionalizações e entendimentos

é só a pequena parcela que continua a sentir inteiramente

até o que a gente tentou destruir.


As vezes é preciso inspirar-se

até chegar nos seus poros internos

que exalam sozinhos

o perfume dos seus sentimentos.


O delicado do amor

é conseguir chegar onde só o necessário existe

para que esse axioma seja o ponto vital

nonde fundamental é sentir-se

antes mesmo de entender-se.



terça-feira, 20 de julho de 2010

Nódulo

Meu pior momento em mim.


Tudo aquilo que eu não consigo falar

atormenta meu vômito entalado

e me sufoca as partes mais íntimas

garganta abaixo

mesmo quando minha mão

não consegue soltar a sua.


Seu rosto em cacos quebrados

revelam o nó preso por dentro

que eu não consigo apalpar

nem mesmo com as lágrimas escondidas.


Tentativas falhas de ignorar e esquecer

os nódulos sangrentos

que levam até as artérias um plasma amargo

misturando nossas essências e cheiros

e acorrentando-os à corpos estranhos.


Meu olhar agora enxerga tudo embaçado

e as cores se mostram embriagadas

de outro sabor suado

enquanto eu tento te re-experimentar

procurando bravamente aquele gosto

que escorre por entre meus dedos abertos.


É como colocar para dentro

sem digerir

e esperar que em algum momento

o nódulo desapareça

sem deixar marcas.


É como juntar as peças

e criar imagens doces

que mesmo sem se encaixar

me fazem sorrir

e me fazem apertar seu peito contra o meu

mesmo que haja dor.


Doce ilusão

chorar junto

para não chorar sozinho.


Eu carrego em mim o peso

de cada gota desse orvalho seco

e busco em meio ao pranto

tua face para me acalmar

como era antes em algum momento de nós.


Quando nossos olhos se cruzam eu me pergunto:

- cadê aquelas mentiras que ainda são as minhas verdades?

E sempre serão.

- em que parte de tudo isso, não era exatamente isso?

E somente isso.


Eu tento escrever de novo

versos já escritos.



quarta-feira, 14 de julho de 2010

Mais que isso


É mais que dor.


É como se fosse aquela pontinha te alfinetando

com a ponta das lágrimas

enquanto a acidez escorre por poros quase secretos

que mesmo depois da tempestade dos olhos

continuam doces com uma pitada de afeto e medo.


Algumas fincadas alcançam no pedaço central

do desastre interno

que desmorona labirintos esquemáticos

escondidos pela memória cardíaca a fora.


Há beleza por traz da dor.


Resta algo discreto de nós em nós mesmos

que transformam cicatrizes sangrentas

em tatuagens secas disfarçadas de desenhos interrompidos

revelados em uma história para além dessa dor

e muito além das palavras.


É como um nó

berrado no silêncio de uma garganta inflamada

sangrando puro pus coberto de amor.





quinta-feira, 8 de julho de 2010

Taça de sangue




Medo.
Asco.

Dor.

Tudo junto em uma dose única
de despedaçamento interno
nonde nem mesmo a delicadeza restou.

O nó na garganta

e o corpo se retorcendo

ao partir em mil pedaços

tudo aquilo que fora sólido

e que agora escorre entre lágrimas e vômitos de sangue.

Sobram ainda as cenas dos filmes sombrios
passando pela minha cabeça
e aterrorizando meu pulso acelerado
enquanto o veneno dessa dor goteja por entre minhas artérias.

É que simplesmente não há espaço na razão
que engula essa taça nojenta
sem antes expelir meu pranto
em meio à esses pedaços trêmulos de mim.

domingo, 4 de julho de 2010

Ver-sós


Com meu avesso ao inverso

atravesso versos certos

e me meço a metros de mim

nalgum abismo interno em que tropeço

tentando alcançar o encaixe discreto

que embaça meu ser imerso.


Entre chamas e lágrimas

lanço meu toque no ar

sentindo a lua com o olhar

até extrair beleza da paisagem

que vejo no desenho da minha imagem

rabiscada de neblina perfumada.


Fora de mim encontro

meu avesso ao inverso nesses versos.


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