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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Primeira palavra



Não cabe em lugar algum
o fardo cascudo que o laço criou.

Antes era a ausência
depois foi a presença
hoje é o lugar cativo
onde presença e ausência
se encontram
se misturam
e se destroem.

A primeira palavra pronunciada na vida
se tatuou como a mais profunda ferida.

Núcleo estilhaçado
de tudo aquilo que não se esconde
e não se toca
mas se dilacera até o ventre.

O silêncio construiu o tamanho da dor
o nó na garganta construiu o sabor do amargor
por ora sabor de presença da ausência,
por ora sabor de ausência da presença.

Poderia se chamar vínculo mortal
mas na verdade é só o limite do silêncio.

Estandarte sangrento
que carrega consigo
as marcas de uma vida
onde abandono e carinho
tinham o mesmo nome.

Quase não posso escrever essas lágrimas
quase não posso chorar essas palavras.

Traduzir a dor em versos
não faz que voz alcance os ouvidos mais desejados
e os colos mais cotados.

Ao contrário,
o que a falta faz
mais uma vez se repete
se instaura
se inaugura na eternidade
e se expande para os mais diversos laços.

Fica aqui a fenda da falta:
falta do seio da vida
e as tantas outras faltas
que a vida tratou de ordenar.

Quase já não posso caber aqui,
onde o limite do silêncio
berrou.


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