
Eu tossi cada pedaço engasgado de mim
numa tosse doída e quase sem fim.
Eu arranquei com minhas próprias mãos
aquele oco que palpitava dentro do coração.
Não foi suficiente.
Continuo mancando da perna direita
como se nada sustentasse
essas cores escuras dentro da pele.
Com as mãos trêmulas eu deslizo
nas cores cintilantes
e me entrego a tudo que nego
de forma marcante.
Conheci as partes mais escondidas que possuo
Viajei por elas por longos dias.
Apalpei-as como quem apalpa a si
Olhando de fora como se jamais estivesse tão dentro.
Permaneci ali.
No silêncio obscuro
Que fazia um barulho claro dentro do peito.
Sentei e ali fiquei.
Talvez eu devesse ter ido embora
Antes de saber de tudo que hoje eu sei.
Talvez não.
Eu sei de mim, como não sabes de ti.
Naquele pedaço que tossi,
Eu me vi em pedaços toda inteira
Quanta bobeira!
Segurei a tosse com as mesmas mãos que ainda tremiam.
Num pulo de quase um segundo
Pensei novamente em partir
Descobri que depois de já estar aqui
Difícil é sair de si.
Essa vida interior tão guardada
Tão inexplorada
Atrai aqueles que têm medo de si
E que tem medo de deixar-se.
Eu fico ali sentada
Como aquele que é expectador de si
Olho para dentro e novamente me apalpo
E me arranco de mim.
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