-

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tosse sem fim


Eu tossi cada pedaço engasgado de mim

numa tosse doída e quase sem fim.

Eu arranquei com minhas próprias mãos

aquele oco que palpitava dentro do coração.


Não foi suficiente.

Continuo mancando da perna direita

como se nada sustentasse

essas cores escuras dentro da pele.


Com as mãos trêmulas eu deslizo

nas cores cintilantes

e me entrego a tudo que nego

de forma marcante.


Conheci as partes mais escondidas que possuo

Viajei por elas por longos dias.

Apalpei-as como quem apalpa a si

Olhando de fora como se jamais estivesse tão dentro.


Permaneci ali.

No silêncio obscuro

Que fazia um barulho claro dentro do peito.

Sentei e ali fiquei.


Talvez eu devesse ter ido embora

Antes de saber de tudo que hoje eu sei.

Talvez não.

Eu sei de mim, como não sabes de ti.


Naquele pedaço que tossi,

Eu me vi em pedaços toda inteira

Quanta bobeira!

Segurei a tosse com as mesmas mãos que ainda tremiam.


Num pulo de quase um segundo

Pensei novamente em partir

Descobri que depois de já estar aqui

Difícil é sair de si.


Essa vida interior tão guardada

Tão inexplorada

Atrai aqueles que têm medo de si

E que tem medo de deixar-se.


Eu fico ali sentada

Como aquele que é expectador de si

Olho para dentro e novamente me apalpo

E me arranco de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails